Solidariedade a Nathália Freitas, jornalista esportiva vítima do machismo no futebol
Em nota, Flávia Cristina Marques, secretária da Mulher Trabalhadora da CUT Goiás, repudia a atuação do presidente do Atlético Clube Goianiense, Adson Batista.
Publicado: 31 Janeiro, 2025 - 11h39 | Última modificação: 31 Janeiro, 2025 - 11h56
Escrito por: Renato Costa

A CUT Goiás, por meio de sua Secretaria da Mulher Trabalhadora, se solidariza com a jornalista esportiva Nathália Freitas, vítima do sexismo machista expressado pelo presidente do Atlético Clube Goianiense, Adson Batista, durante coletiva de imprensa na noite da última quarta-feira, 29 de janeiro.
A seguir, o posicionamento da secretária da Mulher Trabalhadora da CUT Goiás, Flávia Cristina Marques:
“No futebol moderno não cabem mais esses tipos de ataques contra as mulheres. Infelizmente, o que se vê nessa postura retrógrada e equivocada do presidente do Atlético Goianiense, Adson Batista, é a pura demonstração de que o machismo é estrutural e fundamentado no patriarcado. Essa forma de conduzir persiste e continua agredindo as mulheres que atuam no mundo dos esportes, principalmente no futebol. Aqui em Goiás isso é notório: a fala de Adson Batista demonstrou falta de respeito, uma urgência em descredibilizar a fala da jornalista Nathália Freitas, reduzindo sua opinião a um olhar estético, como se as mulheres só soubessem olhar para homens para analisar seus corpos e julgá-los. Isso é equivocado e isso é agressivo.
Fica muito claro também a falta de respeito e a incapacidade que ele teve de reconhecer que a jornalista fala com propriedade do assunto em pauta, que isso o irrita. Ele deu a entender que uma mulher não deveria opinar sobre aquilo. Nathália fala com propriedade sobre a atuação do atleta porque ela trabalha no meio esportivo. O próprio Adson admite que ela acompanha e entende de futebol e, ainda assim, ele faz uma fala como aquela. É notório a sua falta de argumentos para contradizê-la.
Quando ele percebe que Nathália não aceitou sua fala, que ficou sem argumentos e até com vergonha ao perceber o que fez, tenta finalizar o assunto, dizendo que ela se vitimiza. Então, é uma flagrante postura de pessoas agressivas: tentar responsabilizar a vítima, dizendo que uma denúncia de machismo é “mi mi mi” e que a vítima se vitimiza. Um outro momento vergonhoso é quando tenta uma justificativa dizendo ter feito aquela fala por conhecer a jornalista, por ter proximidade com ela. Típico de quem não tem argumentos!”
Entenda o caso
Ao comentar positivamente a participação do atacante uruguaio Alejo Cruz, a jornalista Nathália Freitas foi surpreendida com um comentário de Adson Batista, que atribuiu a ela uma apreciação parcial da partida, motivada por condição de gênero. Depois de Adson questionar a atuação de toda a equipe no empate de zero a zero contra a equipe do Goianésia, Nathália elogiou a atuação do atleta, um comentário que faria qualquer jornalista.
Em resposta, o dirigente disse: “Não. Ele errou para caramba, teve uns chutes, mas pode render muito mais, pode ser cobrado mais. Acho que você achou ele bonitinho, só isso.”
A fala de Adson Batista revela sua disposição de desqualificar a opinião de uma mulher trabalhadora da comunicação no exercício de sua função, o que, sim, é sinal de machismo e de sexismo. Inclusive, Adson falava contra a sua própria equipe e menosprezava os esforços dos atletas em campo. Diante disso, Nathália protestou bravamente: “Não. Eu não vou aceitar porque eu sou profissional e eu acho que você fez essa brincadeira porque eu sou mulher e isso acaba afetando o meu profissionalismo.”
Apesar dos pedidos de desculpas, Adson reiterou seu comportamento machista ao tentar se impor dizendo: “ Eu não levo para esse lado pela liberdade que tenho com você. Então, você me desculpe. Sem barraco.” e “Eu estou falando porque você poderia conversar comigo diferente. Mas tudo bem, faz do jeito que quiser, se vitimiza, eu não tive essa intenção jamais.” - tentando dar por encerrado o assunto.
Muitos são os significantes do machismo. Qual tipo de “liberdade” um dirigente esportivo poderia ter com uma profissional do jornalismo? Depois de questionado por Nathália, ao exigir o fim do debate dizendo “sem barraco”, Adson buscou reduzir a luta pela emancipação das mulheres à histeria, recurso típico dos homens que buscam desqualificar as reivindicações femininas. Ao dizer “... você poderia conversar comigo diferente.”, Adson buscou, no mínimo, constranger Nathália, pressionando-a por uma mudança de comportamento imediato. Por fim, o argumento reacionário da “vitimização”, que busca desqualificar todo o tipo de luta por mudanças necessárias ao progresso e à reparação histórica.
É lamentável esse tipo de comportamento de um dirigente esportivo goiano, representante máximo de uma das principais equipes do estado. É preciso maior qualificação política e civilidade por parte desses profissionais do esporte.
Em nota, Adson Batista buscou se retratar:
"Nathalia, gostaria de expressar minhas desculpas pelo comentário feito durante a entrevista de hoje. Em nenhum momento minha intenção foi ofender ou desrespeitar você, que considero uma profissional de muito bom nível. Entendo que, em situações como essa, o humor pode ser mal interpretado, e lamento profundamente se a brincadeira a fez se sentir desconfortável. Tenho contato profissional com você há quase 10 anos. Sempre tive grande respeito pelo seu trabalho e pela pessoa que é! Quero que saiba que a intenção nunca foi de causar qualquer tipo de constrangimento, mesmo porque a minha postura não foi de te ofender ou diminuir. Repito que jamais tive a intenção de diminuir a sua reputação."