Violência contra jornalistas se mantém em alta, mesmo com queda nos registros
No ano passado, foram registrados 376 casos de ataques, 54 a menos que os 430 registrados em 2021, ano recorde de violência contra profissionais da imprensa desde o início do levantamento feito pela Fenaj
Publicado: 27 Janeiro, 2023 - 10h20 | Última modificação: 27 Janeiro, 2023 - 12h40
Escrito por: Gabriella Braga
A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), entidade filiada à CUT, divulgou nesta semana o Relatório da Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil – 2022. O ano marcado pelas eleições acirrou a violência política, que atingiu, entre várias outras categorias, os/as jornalistas de todo o país.
O número de agressões a profissionais da imprensa se manteve em níveis elevados, mas registrou queda de 12,53%, em comparação com 2021. No ano passado, foram 376 ocorrências registradas, 54 a menos que os 430 casos levantados em 2021, ano recorde desde o início da série histórica dos levantamentos feitos pela Fenaj, iniciada na década de 1990.
O relatório aponta que diminuíram apenas ocorrências de descredibilização da imprensa e de censura, mas cresceram as agressões diretas aos/às profissionais em todas as regiões do país. Mesmo com a queda no número de casos de descredibilização da imprensa, estratégia adotada pelo governo de Jair Bolsonaro, esta voltou a ser a violência mais frequente em 2022. Foram 87 casos de ataques que buscaram desqualificar a informação jornalística. Em 2021, o número chegou a 131, ou seja, 33,59% a mais que no ano seguinte.
Por outro lado, houve um crescimento de 133,33% nas ocorrências de ameaças, hostilizações e intimidações contra profissionais da imprensa, a segunda categoria com maior número de ocorrências em 2022, com 77 casos, 44 a mais que os 33 registrados em 2021.
A censura, categoria com maior número de casos em 2021, caiu para a terceira posição em 2022. A queda de 54,96% está, provavelmente, ligada à diminuição no número de denúncias e não dos episódios propriamente ditos, conforme diz o relatório.
Agressões verbais e virtuais apresentaram queda de 20,69%, mas ainda registraram 46 casos no ano passado. Já as agressões físicas aumentaram 88,46%, passando de 26 para 49. Impedimentos ao exercício profissional apresentaram alta absurda, de 200%: 21 casos em 2022 ante sete registrados em 2021.
Houve crescimento de 125% nas ocorrências de ataques cibernéticos a veículos de comunicação, passando de quatro para sete episódios. As demais categorias, como atentados (5 casos), detenções e prisões (3 casos) violência contra a organização sindical (3 casos), apresentam pouca variação entre os dois últimos anos.
O documento destaca ainda um registro de assassinato contra jornalistas. É o caso do jornalista britânico Dom Phillips, morto em 5 de junho de 2022, junto com o indigenista Bruno Pereira, em uma emboscada no Vale do Javari, em Atalaia do Norte, Amazonas.
Assim como nos três anos anteriores, desde que entrou na presidência da República, Jair Bolsonaro foi o principal agressor de profissionais da imprensa. Sozinho, foi responsável por 104 casos (27,66% do total), sendo 80 episódios de descredibilização da imprensa e 24 agressões diretas a jornalistas (10 agressões verbais e 14 hostilizações).
Violência por região e estado
A região Centro-Oeste concentrou o maior número de casos de atentados à liberdade de imprensa pelo terceiro ano consecutivo. Foram 98 ocorrências na região, o que representa 26,06% do total. No entanto, foi a única região que registrou queda, já as outras quatro apresentam alta no número de episódios.
O Distrito Federal é a unidade federativa com mais ocorrências. Em 2022, foram 88 (30,57%), incluídos os 52 episódios de censura registrados nas Empresa Brasil de Comunicação (EBC), empresa de mídia do governo federal.
Já entre os demais estados do Centro-Oeste, Mato Grosso é o segundo com mais registros, com seis casos, e dois episódios registrados no Mato Grosso do Sul e em Goiás, cada um.
Sudeste se manteve na segunda posição das regiões mais violentas contra jornalistas, posição ocupada também nos dois anos anteriores. Foram 85 ocorrências, ou 28,47% do total. São Paulo foi o estado mais violento da região, e o segundo em nível nacional, com 48 casos (16,67%), com três casos a mais que no ano anterior.
Em seguida, Rio de Janeiro, com 18 casos, e Minas Gerais, com 10. Em ambos os estados houve crescimento de seis episódios, em comparação com 2021. Espírito Santo foi o estado da região com menor número: seis casos em 2022, dois a mais que no ano anterior.
A região Norte, historicamente a menos violenta para jornalistas, ultrapassou as regiões Nordeste e Sul, com aumento de 112,5% no número de casos. Foram 38 episódios, que representa 13,20% do total, e 18 a mais que os 16 ocorridos no ano anterior.
Pará foi a unidade federativa da região com mais ocorrências, 21 casos registrados. No Amazonas foram sete; em Rondônia, seis; e Roraima, dois casos. Acre e Tocantins tiveram um episódio cada.
O Sul e Nordeste do país registraram o mesmo número: 35 cada (12,15% do total). No Nordeste, a Bahia foi o estado que mais registrou: 14, o dobro do levantado em 2021. Piauí, em segundo colocado, com sete episódios, seguido pelo Ceará, com quatro. Em Pernambuco, foram três casos; Alagoas, dois, e Maranhão, Paraíba e Sergipe, uma ocorrência cada.
Já no Sul do país, Paraná foi o estado com maior número: 19 ataques, nove a mais que no ano anterior. Rio Grande do Sul desponta em segundo, com 11 casos, e Santa Catarina, em terceiro lugar, com cinco.
Algumas das ocorrências de violência a jornalistas não foram enquadradas em nenhuma região, ou por serem genéricas e generalizadas, ou por terem sido cometidas em outros países, como os ataques conduzidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
*Informações Fenaj