Escrito por: Maísa Lima
Ignorando o direito de greve e também os riscos que os motoristas correm todos os dias ao dirigir veículos lotados, Polícia Militar abusou das balas de borracha. Presidente do Sindicoletivo chegou a ser pres
Em Goiânia (GO), os motoristas do transporte coletivo cansaram de esperar que as empresas sentassem à mesa para negociar melhores condições de trabalho e renda e fizeram uma paralisação contra a lotação excessiva dos veículos, por vacina para a categoria e reajuste salarial. Além da queda do poder de compra, a categoria sofre com a pandemia do novo coronavírus. Mais de 200 trabalhadores já contraíram a Covid 19 e pelo menos 3 morreram na capital goiana.
Os trabalhadores de transporte de Goiânia - que como todas as demais categorias têm garantido o direito de fazer greve - foram violentamente agredidos pela Polícia Militar (PM) do governador Ronaldo Caiado (DEM) com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo, além de cassetetes.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Coletivo de Goiânia e Região Metropolitana (Sindicoletivo), Sérgio Reis, chegou a ser preso, mas não se intimidou.
Assim que foi liberado Sérgio informou que a paralisação já conseguiu a vitória de forçar as empresas a sentarem-se à mesa de negociação. O dia de paralisação será abonado, os 3% que haviam sido retirados dos trabalhadores da Metrobus voltarão a ser pagos e uma reunião foi agendada entre as partes.
O secretário de Administração e Finanças da Central Única dos Trabalhadores no Estado de Goiás (CUT-GO), Napoleão Batista Ferreira, que estava no local prestando solidariedade e apoio da Central à causa dos motoristas, reagiu indignado à ação da PM de Caiado.
“O presidente do sindicato e os trabalhadores foram brutalmente atacados com bala de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Isso é um absurdo em uma democracia. O direito à greve tem de ser respeitado”, disse o dirigente.
Covid entre os motoristas
No início de 2021 foram registrados 62% mais óbitos de motoristas de ônibus - uma das categorias que mais perdeu trabalhadores para a Covid-19 - do que entre janeiro e fevereiro de 2020, pré-pandemia do novo coronavírus, conforme levantamento realizado pelo jornal El País.
Com transportes coletivos ainda mais lotados durante a pandemia porque as empresas reduzem as frotas quando os governos decretam medidas de isolamento social, a categoria se arriscou a contrair a doença, muitos pegaram Covid, outros morreram e ainda assim o setor reduziu quase 50 mil postos de trabalho formais, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Reivindicações
Além da testagem em massa de todos os motoristas de Goiânia, a categoria reivindica e vacina no braço para quem assume o risco de transportar diariamente centenas de pessoas.
O Sindicoletivo reivindica ainda reajuste salarial de 15% e de 25% no Ticket Alimentação, além da manutenção dos benefícios atuais, como Plano de Saúde. Também se posicionam contra a privatização da Metrobus, que pertence ao governo do Estado; e a melhoria nas condições de trabalho.
A deputada estadual delegada Adriana Accorsi (PT) fez requerimento à Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) solicitando a inclusão dos motoristas do transporte público na lista prioritária de vacinação contra Covid-19. "A categoria presta um serviço essencial à sociedade e está diretamente exposta ao contato com milhares de pessoas, o que aumenta a possibilidade de contaminação", justificou.
*Edição: Marize Muniz