Escrito por: Gabriella Braga

Professora é demitida após usar camiseta com frase de artista plástico

Colégio demitiu a educadora depois de ser pressionada por bolsonaristas. Deputado federal Gustavo Gayer publicou vídeo criticando vestimenta com os dizeres "Seja Marginal, Seja Herói", de Hélio Oiticica

Um colégio particular de Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da capital goiana, demitiu uma professora de História da Arte após ela publicar nas redes sociais uma foto utilizando uma camiseta estampada com a obra do artista Hélio Oiticica, com os dizeres "Seja Marginal, Seja Herói". A imagem foi compartilhada pelo deputado federal bolsonarista Gustavo Gayer (PL), e motivou uma enxurrada de críticas à unidade escolar.

A educadora, que trabalhava no Colégio Expressão desde janeiro deste ano, foi desligada por telefone na última quinta-feira (4), dois dias após ela ter utilizado a vestimenta em referência ao artista brasileiro em sala de aula. Ao g1 Goiás, ela disse que tem costume de usar camisetas com obras de arte, o que, inclusive, a ajudava a explicar sobre os contextos históricos e artísticos durante as aulas.

"Naquele dia expliquei e eles entenderam o contexto histórico da obra", destacou. A professora contou ainda que as camisetas são confeccionadas na loja de um amigo e, no intuito de divulgar a marca, ela publicou a foto utilizando a vestimenta nas redes sociais. "A obra é vermelha, por isso a camiseta é vermelha. Não há associação política alguma", explicou. 

Conforme a docente, não era incomum falar sobre as obras de Hélio Oiticica nas aulas, visto que o artista plátisco aparece frequentemente em questões de vestibular, a exemplo da prova da Universidade de Campinas (Unicamp) de 2022. Por isso, ensinava sobre os contextos históricos das obras de arte dele.

Polêmica

O colégio emitiu uma nota, logo após a demissão, dizendo que "jamais induziu, militou ou abordou temas políticos, religiosos ou de gênero". "Ensinar conteúdos polêmicos em sala de aula pode ser um desafio para nós educadores. Porém, como profissionais da educação, temos a responsabilidade de apresentar esses temas de forma imparcial e crítica, sem tomar partido ou influenciar nossos alunos", apontou o texto.

O Sindicato dos Professores do Estado de Goiás (Sinpro), juntamente com o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego) e demais entidades da categoria, informaram que foi protocolizada uma ação judicial na Justiça Federal contra o deputado federal Gustavo Gayer "solicitando a exclusão das redes sociais disseminadoras de ódio e falsas notícias, incluindo-se a página dele que persegue professores/as em nome do monitoramento da suposta doutrinação".

Além desta, também entrou com ação cível solicitando reparação de danos materiais e morais sofridos pela professora. "Está também em fase final de elaboração a ação trabalhista contra o Colégio, em caso de consumação jurídica da demissão da docente", disse o Sinpro, em nota.

Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Araújo caracterizou o caso como uma "vergonha" e "mais uma aberração da dita “Escola sem Partido”". "Na verdade é a tentativa de por mordaça na atuação de professores/as nas escolas públicas e privadas", disse. O dirigente teceu ainda críticas ao deputado federal goiano. "Podemos caracterizar bem Gustavo Gayer como um ignorante: “pessoa que não tem conhecimento, não tem cultura, por falta de estudo”."

"Pelo fato dele pertencer ao PL (mesmo partido do pior presidente que este país já teve), ele prática a perseguição política, o autoritarismo e utiliza as redes sociais para divulgação de informações falsas", destacou Araújo. E finalizou: "Devemos condenar pessoas que agem desta forma, e por se tratar de um parlamentar, devemos repudiar ainda muito mais. É um mau exemplo para a vida pública e de representação do povo de Goiás.