Moradores de rua debatem políticas públicas em Goiânia
Líderes do movimento, militantes e autoridades participam de seminário que discute cidadania e direitos com a população em situação de rua, em evento de três dias
Publicado: 24 Abril, 2017 - 09h59

Existem mais de 2 mil pessoas vivendo nas ruas de Goiânia, em diversas partes da cidade. A informação é do coordenador em Goiás do Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR), Eduardo de Matos, que critica com veemência a estatística da Prefeitura goianiense de 2016, que contava 351 pessoas nessa lista.
Quem se interessa pela discussão poderá conferir nos dias 26, 27 e 28 de abril o 5º Seminário Povos de Rua – Equidade Social: Garantia de Direitos e Políticas Públicas, idealizado pelo MNPR, Defensoria Pública de Goiás (DPE-GO), Coletivo Liberdade, Coordenação de Promoção de Equidade em Saúde (GEPE) e Superintendência de Políticas de Atenção Integral à Saúde (SPAIS), ambos ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS) e à Secretaria de Estado da Saúde de Goiás.
O 5º Seminário Povos de Rua terá uma série de atividades, como oficina de musicalidade, roda de conversa, vivência coletiva, oficina de redução de danos, um abraço coletivo no Monumento ao Trabalhador, apresentação ao ar livre do Teatro do Oprimido intitulada Nós Somos Nós que Ninguém Desata, duas mesas redondas e show da Banda Coró de Pau e do Bloco Desencuca.
Segundo Matos, o objetivo do seminário é romper com o estigma social e com o preconceito a que está exposta a população em situação de rua. “Trabalhamos para criar um vínculo de reconhecimento do trabalhador que tem lugar na sociedade, moradia e aceitação pública com as pessoas em situação de rua, que não têm direitos trabalhistas garantidos, justamente pelo estigma, mas que também são trabalhadores e cidadãos.”
Consciência política
Matos estima que 70,9% da população de rua desenvolvem atividades para garantir um sustento mínimo, vendendo água, balas ou lavando carros, catando latinhas, recolhendo papelão para reciclagem. “São trabalhadores que não têm um curso profissionalizante, nem oportunidade de emprego formal. Não conseguem se posicionar nesse mercado de trabalho pela ausência de outra série de fatores como endereço fixo, higienização pessoal, alimentação adequada”, analisa.
Conhecedor íntimo da realidade e da vulnerabilidade dessa população, Matos tem sua própria experiência para contar. Vem de uma trajetória de dependência química e de situação de rua de dez anos. Há cinco anos, conseguiu se reabilitar. Saiu das ruas e passou a lutar pelos direitos das pessoas que vivem nessas condições.
“Nossa expectativa é de romper com o estigma de que na rua só tem vagabundo, marginal e drogado. Por isso, o objetivo é lutar pela equidade social e pela garantia desses direitos”, diz Matos. Segundo ele, o movimento vem dando consciência política a essa população.
"Todos estão percebendo que perder a casa e a família, perdendo por tabela a estima da sociedade, não significa perder também a inteligência, a sensibilidade e os direitos de cidadão, nem a capacidade de se organizar e lutar. E é isso que estamos fazendo agora, com mais este seminário", pontua o coordenador do MNPR.
Articulação
A expectativa de Matos é de que pelo menos 200 cidadãos em situação de rua compareçam ao evento. Na sexta-feira, 28, as atividades vão tomar o dia todo. “Vamos preparar um almoço contando que haverá 200 pessoas de rua, além dos outros públicos”, comenta.
A organização do evento busca garantir o protagonismo da população de rua. “Articulamos de forma que cada um dos parceiros ficou responsável por alguma questão. Um, a estrutura; outro, a alimentação; e outro, a mobilização”, diz Matos. Os responsáveis pela articulação vão às ruas convidar as pessoas. Além disso, providenciam o transporte a partir de diversas regiões da cidade.
É visível nas ruas do centro de Goiânia, e nos bairros que circunscrevem a região central, o aumento da população em situação de rua. Junto com essa estatística, a violência também aumenta.
O coordenador lembra que no início deste ano houve uma chacina contra moradores de rua com quatro mortos. “Infelizmente, a violência contra a população de rua vem crescendo de novo. E isso nos preocupa”, avalia.
Debates
Para debater questões de segurança pública, emprego, saúde, vulnerabilidade física e psíquica, opressões e liberdade, o 5º Seminário Povos de Rua contará com a presença de autoridades e militantes do Brasil inteiro, como a defensora pública do Estado de Goiás, Gisela Camillo Casotti Teixeira; o defensor público do Estado de São Paulo Rafael de Sá Menezes; e a procuradora de Justiça do Ministério Público de Goiás Ivana Farina Navarrete Pena.
Além de outros debatedores, estarão presentes também frei Marcos Sassatelli, doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo; Veridiana Machado, educadora social do MNPR do Rio Grande do Sul; e Estefânia Cherulli Fernandes, psicóloga do CAPSad Noroeste e membro do Coletivo Liberdade.
Paralelo ao seminário, haverá um encontro dos coordenadores do MNPR dos 13 Estados brasileiros que contam com o movimento. A reunião será realizada no espaço cedido pelo Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde no Estado de Goiás (Sindisaúde), em Goiânia.
Serviço: V Seminário Povos de Rua
Data: 26, 27 e 28 de abril
Local: Praça do Trabalhador (26 e 27, à tarde) e Auditório Jaime Câmara, da Câmara Municipal de Goiânia (28, o dia todo).
Coordenação: Movimento Nacional da População em Situação de Rua de Goiás e Defensoria Pública do Estado de Goiás
Contato com a imprensa: Eduardo de Matos, Tel (62) 98279-4247; E-mail: dudumattosporhoje@hotmail.com