Escrito por: Maísa Lima
Estado, responsável pela guarda dos dez adolescentes que morreram queimados, não minimiza o sofrimento dos familiares
Já se passaram quase três meses - a completarem-se em 25 de agosto - da tragédia que vitimou dez adolescentes que se encontravam no Centro de Internação para Menores (CIP), que funciona no 7º Batalhão da Polícia Militar, no Jardim Europa, em Goiânia (GO), e até agora o Estado, responsável pela guarda desses meninos, não ofereceu o acompanhamento psicossocial necessário aos familiares e nem aos demais internos, muitos abalados pelo acontecido.
A informação é de Kátia Regina Neres Reis, assistente social, conselheira no Conselho Regional de Serviço Social (Cress-GO) e do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente (CEDCA) e atualmente atuando como conselheira tutelar pela Região Oeste de Goiânia; e de Geralda Ferraz, da Associação Mulheres na Comunicação. Ambas participaram na manhã desta quinta-feira (16) do programa Antena Ligada, da Rádio Trabalhador (www.radiotrabalhador.com.br).
O fogo que consumiu a vida desses jovens foi tão forte que os corpos só puderam ser identificados pela arcada dentária e até agora ninguém foi punido. Ora fala-se em omissão dos servidores do CIP, ora em falta de infraestrutura da unidade, mas o fato é que se trata de uma tragédia anunciada.
Tragédia anunciada
Kátia Regina e Geralda lembraram que foram feitas várias visitas de fiscalização no CIP, inclusive do Ministério Público Estadual e até mesmo audiências públicas sobre os problemas vividos por servidores e adolescentes infratores. "Foram apontadas várias violações, mas nada de concreto foi feito. Nada disso impediu a tragédia", lamentam. E completam: "esse é um problema de toda a sociedade. Não só das famílias desses menores".
"É preciso que realmente esses menores tenham uma chance de ressocialização. Em julho, a banda goiana de rock Boogarins realizou uma oficina de produção musical com os adolescentes internados CIP e ficou clara a vontade dos internos de terem alguma atividade", pontuou Geralda. A oficina foi realizada utilizando plataformas digitais que possibilitaram aos adolescentes a fazerem músicas a partir de smartphones.
Tanto Kátia quanto Geralda defenderam a necessidade de políticas públicas de prevenção. "Do contrário ficaremos assistindo as crianças e adolescentes serem aliciadas pelo crime e o extermínio da juventude pobre e negra. "Se a sociedade civil não ocupar esse espaço, o governo não o fará. Precisamos cobrar e monitorar que esse crime não fique impune."