Polícia Militar anunciou que fará a reintegração de posse na segunda-feira (24) e temor do MST é que ação resulte em tragédia
As 3 mil famílias do Acampamento Dom Tomás Balduino, que ocuparam a Fazenda Santa Mônica no dia 31 de agosto, propriedade de mais de 24 mil hectares (ha) que o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) detém nos municípios de Abadiânia, Alexânia e Corumbá de Goiás, estão vivendo momentos de tensão. A Polícia Militar (PM) pretende cumprir na segunda-feira (24) a liminar de reintegração de posse e o temor do coordenador estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Valdir Misnerovicz, é que a ação termine em tragédia. Para tentar reverter a liminar, o MST apresentou agravo de instrumento e agora a decisão cabe ao desembargador do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), Gilberto Marques Filho. "Está nas mãos dele tanto evitar o despejo quanto por fim à greve de fome", pontuou Valdir, refererindo-se ao ato extremo de 22 homens e mulheres sem terra iniciado na terça-feira (18), por tempo indeterminado. O coordenador acrescenta que o magistrado deve entrar em férias nesta quinta-feira (20) e ele teme que isso aconteça sem que ele antes julgue o recurso. Enquanto o MST corre para evitar que aconteça o que chama de tragédia anunciada, já está em Goiânia um observador do Vaticano para acompanhar o despejo e tentar evitar que se cometam arbitrariedades e violências no acampamento. Trata-se do bispo mexicano dom José Raul Vera Lopes, da Comissão de Justiça e Paz da Santa Sé. "A reforma agrária é uma das nossas bandeiras. Apoiamos a luta do MST e esperamos que o governo do Estado tenha bom senso neste momento", preocupa-se a presidenta da
Central Única dos Trabalhadores no Estado de Goiás (CUT-GO), Bia de Lima.
91 imóveisO Acampamento Dom Tomás Balduíno está localizado em um dos 91 imóveis rurais que Eunício Oliveira possui em Goiás. Os integrantes do MST reivindicam a desapropriação da Fazenda Santa Mônica para fins de reforma agrária. O pedido de reintegração de posse foi expedido pelo juiz da comarca de Corumbá, Levine Raja Gabaglia Artiaga, e para o movimento é ilegal, uma vez que o magistrado é aliado pessoal e político do senador. “Eunício é o maior dono de terras na região. Terras improdutivas, que só servem para enriquecê-lo cada vez mais. Essa é a maior ocupação em Goiás dos últimos dez anos e não vamos permitir que mais injustiças sejam feitas em prol do bem estar de latifundiários”, salienta Luiz Zarref, membro da direção estadual do MST de Goiás. Outra preocupação é com o contingente policial chamado para fazer a reintegração. Segundo Zarref, cerca de 5 mil policiais militares estão sob aviso. “As famílias não estão dispostas a sair, mas também não queremos confronto. Temos mulheres, crianças, idosos que não podem ser colocados em risco. Um enfrentamento com a polícia nessas condições pode causar uma verdadeira tragédia. Confiamos no recuo do governo do Estado. Essas milhares de famílias não podem sem tiradas à força dessas terras”, finaliza.