Aumenta a violência contra a mulher durante a pandemia e vítimas não têm apoio
Publicado: 24 Junho, 2021 - 00h00
Nada menos que 17 milhões de mulheres brasileiras foram vítimas de algum tipo de violência e agressão durante primeiro ano da pandemia, ao mesmo tempo em que se registra aumento de políticas antigênero no País
Nova pesquisa divulgada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), encomendada ao Instituto Datafolha, demonstra um quadro gravíssimo da violência contra a mulher no Brasil.
O estudo se ateve ao último ano, ou seja, compreende o período da pandemia do Covid-19. A investigação apontou que 17 milhões de mulheres brasileiras foram vítimas de algum tipo de violência e agressão neste curto espaço de tempo.
A violência sexual também foi outro triste destaque: cerca de 3,7 milhões foram vítimas ou sofreram tentativas de manter relações sexuais forçadas. No cômputo geral, a pesquisa alerta para o fato de que, em 2020, oito mulheres foram agredidas no Brasil a cada minuto.
As organizações de defesa das mulheres, entre elas as do campo sindical, já haviam alertado para o fato de que o isolamento social acarretaria em mais violência contra a mulher em virtude do aumento do contato com o agressor, presente em sua própria casa.
Dados apresentados no documento do Fórum sobre o tema “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil” corroboram com este pressuposto ao provar que houve um aumento de 6,6% da violência na própria casa em comparação ao levantamento de 2019, o que fez atingir agora 48,8% dos casos. São, evidentemente, agressores conhecidos das vítimas, como pais, irmãos, maridos, namorados, parentes próximos, o que torna ainda mais difícil as ações e medidas preventivas e punitivas contra estas condutas abjetas e criminosas.
A pesquisa foi muito precisa em diagnosticar que uma a cada quatro mulheres acima de 16 anos de idade foi vítima de algum tipo de ataque, seja físico, psicológico ou sexual neste primeiro ano da pandemia. São números que demonstram que a violência contra as mulheres é um fenômeno presente de forma aguda em todo o País, que percorre todas as classes sociais, idades e raças, dilacerando cotidianamente suas vítimas e mantendo aberta uma ferida no tecido social que precisa ser curada.
No recorte de raça, o estudo diz que 25,4% das agressões atingem as mulheres negras. Pode-se observar, ainda, que as mulheres perderam mais renda e emprego neste período analisado. O que faz compreender que a desigualdade entre homens e mulheres também contribui com estes indicadores.
A pesquisa, que está em sua terceira edição, reitera, infelizmente, a manutenção de uma condição de violência de gênero que vem sendo detectada de forma mais intensa nestes últimos anos. Para esta edição, que teve a coleta de dados entre 10 a 14 de maio e se pautou em casos ocorridos nos doze meses anteriores à pesquisa, foram escolhidos 130 municípios para que 2.079 mulheres com idade superior a 16 anos pudessem ser ouvidas. Deste total, 25,4% confirmaram agressões do companheiro ou namorado, 18,1% pelo ex-companheiro ou ex-namorado e 11,2% por pai ou mãe. Números que levam o País a ser o 5º no mundo com maior índice de violência de gênero.
A pesquisa identificou também que o assédio sexual não diminuiu com o isolamento e continua sendo outra gravíssima ocorrência que vitima as mulheres. Do total de entrevistadas, 37,9% delas sofreram algum tipo de assédio sexual. Diz o estudo que deste total, “31,9% ouviram comentários desrespeitosos quando estavam andando na rua, 12,8% receberam cantadas ou comentários desrespeitosos no ambiente de trabalho, 7,9% foram assediadas fisicamente no transporte público, 5,4% foram agarradas/beijadas sem consentimento, e 5,6% sofreram assédio físico em festa ou balada”.